Crispim denunciou que, após esperar por mais de quatro horas na agência, para receber um atendimento, o gerente pediu que ele se retirasse. Após negativa do cliente, o funcionário acionou uma equipe da Polícia Militar - Foto: Reprodução/Rede Social
JC Online
Jornal Correio para Rede Nordeste
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A Caixa Econômica Federal (CEF) informou que afastou o funcionário da agência do Relógio de São Pedro, acusado de racismo contra o empresário Crispim Terral, 34 anos. Em nota, divulgada na manhã desta quarta-feira (27), o banco diz que repudia práticas e atitudes de discriminação cometidas contra qualquer pessoa e que a Corregedoria da instituição vai apurar o caso.
A Caixa afirmou ainda, em nota, que vai realizar nesta quinta-feira (28) um treinamento específico com toda sua rede de atendimento para reforçar a Política de Relacionamento com Clientes.
"Ressaltamos que as relações da Caixa com seus clientes e usuários são orientadas pela ética, com respeito aos direitos humanos universais".
A nota diz ainda que "a Caixa prima pelo respeito à diversidade de raça, origem, etnia, gênero, cor, idade, classe social ou qualquer tipo de diferença entre as pessoas. Outra diretriz da Política é o atendimento com zelo, presteza e prontidão aos clientes e usuários, de forma justa e equitativa".
Um procedimento foi instaurado no Ministério Público Estadual da Bahia (MP-BA) na terça-feira (26) para apurar a denúncia de racismo praticado por um gerente da CEF e policiais militares contra o empresário Crispim Terral, 34 anos. Todos os envolvidos devem ser ouvidos após o Carnaval pela Promotoria de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa. A própria CEF vai ser acionada para rever sua postura enquanto instituição.
A promotora Lívia Vaz, que acompanha o caso, informou que já assistiu ao vídeo que mostra a agressão ao empresário dentro da agência bancária, mas precisa complementar a apuração do caso com as oitivas dos envolvidos.
"Tem um momento no vídeo em que se fala 'gente desse tipo', então no mínimo houve um constrangimento legal, mas eu preciso entender todo o contexto. Se houve um crime, que crime e que tipo de responsabilização que cabe", diz a promotora da vara de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa.
"Depois que apurarmos, vamos ver a possível responsabilização criminal e civil, a exemplo de uma indenização pelo constrangimento e dano material e moral sofrido", disse Lívia.
Somente este ano, a Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa da Comarca de Salvador, do MP-BA, recebeu denúncias com de 41 casos de racismo ou de injúria racial, além de outros 30 casos de intolerância religiosa.
Entenda o caso
Crispim acusa a Caixa de racismo, após ter sido expulso de uma agência e retirado à força pela Polícia Militar, que atendeu ao chamado da gerência da unidade, que fica no Relógio de São Pedro, na Avenida Sete de Setembro, em Salvador.
A ação, que ocorreu na tarde da terça-feira (19) passada, foi toda gravada e as imagens divulgadas em uma rede social do empresário. Crispim é proprietário da Farmácia Terral, em Salinas das Margaridas, no Recôncavo baiano.
Crispim denunciou que, após esperar por mais de quatro horas na agência, para receber um atendimento, o gerente pediu que ele se retirasse. Após negativa do cliente, o funcionário acionou uma equipe da Polícia Militar.
O PM teria atendido à ordem do gerente geral da agência, que afirma, em vídeo, que "só sai com ele [Crispim] algemado". A ação foi gravada pela filha adolescente da vítima, que acompanhava o pai a um atendimento no banco, e já repercute em todo o país, desde a noite desta segunda-feira (25).
Ontem à tarde, um grupo de 100 manifestantes foi até a Caixa Econômica Federal do Relógio de São Pedro cobrar respostas sobre o episódio de violência sofrido pelo empresário que acabou imobilizado por um policial militar com um golpe mata-leão.
Foto: Betto Jr./correio
Crispim participou do manifesto. Ele acusa tanto a Caixa quanto a PM de racismo. Ao CORREIO, o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Bahia (OAB-BA), Jerônimo Mesquita, repudiou a postura do gerente e a "violência excessiva da Polícia Militar".
Segundo o relato do empresário, registrado na Corregedoria e disponibilizado por ele em uma rede social, os soldados Roque da Silva e Rafael Valverde Nolesco iniciaram as agressões físicas contra ele dentro da agência, onde ele foi imobilizado com uma gravata, e levando-o ao solo, diante de sua filha de 15 anos.
Resposta da PM em nota, a PM informou que o 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM/Centro Histórico) foi acionado por prepostos da agência porque um dos clientes se recusava a deixar a agência, mesmo após o término do expediente.
A nota diz ainda que, no local, os policiais militares conversaram com o gerente da agência e ele relatou que o homem estava solicitando um comprovante de transação, que não poderia ser fornecido naquele momento, e pediu a remoção do cidadão do interior do estabelecimento em razão do encerramento do expediente bancário.
"Os policiais, então, dirigiram-se ao homem e solicitaram que ele acompanhasse a equipe junto com o representante da agência bancária à delegacia, para formalização da ocorrência em razão do impasse gerado pelo conflito de interesses. Os policiais relataram que o cidadão começou a se exaltar e dizer que não sairia da agência sem ter a sua demanda atendida, contrariando a recomendação das autoridades que intervieram no conflito", diz a nota.
A PM alega ainda que "houve a necessidade de empregar a força proporcional para fazer cumprir a ordem legal exarada, mesmo após diversas tentativas de conduzi-lo sem o emprego da força. Ele não foi algemado. O vídeo divulgado mostra uma condução técnica dos policiais militares na ação e também observa-se uma edição suprimindo parte do ocorrido".
Ainda segundo a polícia, uma sindicância será instaurada pelo 18º BPM para apurar todas as circunstâncias da intervenção policial. A polícia informa também que, apesar de ser um estabelecimento federal, quando a PM é acionada tem o dever de atender a ocorrência.
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