segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Reforma da Previdência atingirá em cheio os trabalhadores privados

João Ricardo vai representar Luís Nunes, que quer mais segurança diante da burocracia para aposentar
João Ricardo vai representar Luís Nunes, que quer mais segurança diante da burocracia para aposentar - 
Rio - A aprovação da Reforma da Previdência que deve ficar para o ano que vem - conforme já admitiu o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) - fará com que trabalhadores da iniciativa privada sejam os mais afetados pelas mudanças propostas do que os servidores. Isso porque para alterar a maioria das regras do funcionalismo público é preciso mudar normas constitucionais, o que foi descartado neste primeiro momento, por exigir elevada votação favorável. As propostas, que seriam aprovadas por lei complementar ou ordinária, necessitam de menos votos e atingem em cheio empregados privados.
"Uma reforma infraconstitucional irá atingir diretamente os segurados do Regime Geral da Previdência Social (do INSS), com alteração brusca na Lei de Benefícios (Lei 8.213/91) e na Lei de Custeio (Lei 8.212/91) - diferentemente dos servidores públicos que precisam de Proposta de Emenda Constitucional para que o cálculo da aposentadoria seja mudado, por exemplo", adverte Pauline Navarro, do escritório Vargas e Navarro Advogados Associados.
"Se compararmos os segurados do INSS com os servidores, os benefícios do instituto atingem uma maior parcela da sociedade e estão limitados a um teto (hoje de R$ 5.645,80), mas a sua média não ultrapassa R$1.300, de acordo com dados oficiais, diferentemente dos benefícios dos servidores cuja média é muito maior", acrescenta a advogada.
O valor do benefício foi o que levou o representante comercial Hipólito Luís Nunes, 64 anos, morador do Centro, a pedir o auxílio do advogado João Ricardo Furtado, que é seu procurador. "Meu cliente vai se aposentar por tempo de contribuição, pois recolhe há mais de 36 anos e sua preocupação era saber se receberia um valor justo", disse.
Fim da regra 85/95
Entre as mudanças que podem ocorrer sem alteração constitucional, está o fim da Fórmula de cálculo 85/95, que soma idade e tempo de contribuição e garante o benefício integral; elevação do tempo mínimo de contribuição; redução do valor da pensão por morte; e aumento da idade mínima para receber o benefício assistencial, informa Caio Taniguchi, do escritório Bichara Advogados.
Para os servidores, o ponto mais significativo que seria alterado é a contribuição previdenciária, hoje em 11%. Diante da repercussão negativa, Bolsonaro afirmou que não aumentará a alíquota para 22%. "O que recebi em Brasília foram projetos", disse, afirmando que não fechou propostas.

Nem o atual governo acredita na aprovação da PEC 287

A aprovação da Reforma da Previdência não é um tema que una a opinião de membros do governo atual. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, demonstrou pouca esperança de que mudanças na Previdência sejam aprovadas neste ano. "Se conseguir, ótimo. Mas, se não aprovar, é o fim do mundo? Não. O mercado espera a aprovação da reforma no próximo ano", afirmou Mansueto.
"O 'grosso' da Reforma da Previdência é constitucional", argumentou o secretário do Tesouro, que foi confirmado e permanecerá na gestão do presidente eleito, Jair Bolsonaro.
Enquanto uma mudança na Constituição Federal exige o voto de 3/5 dos parlamentares, em dois turnos de votação, tanto na Câmara quanto no Senado, a aprovação de um projeto de lei ou de medida provisória precisa de maioria simples.
As alterações não são fáceis de serem aprovadas. Michel Temer, diante da falta de apoio parlamentar e do aperto nas contas públicas, chegou a enviar uma medida provisória para aumentar de 11% para 14% a contribuição previdenciária dos servidores, mas terminou barrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A equipe de Bolsonaro já mudou o discurso sobre a Previdência várias vezes. Na campanha, defendeu um projeto novo, com base em contas individuais. Após a eleição, o capitão da reserva disse que o projeto de Temer era "remendo novo em calça velha" e falou em fazer uma reforma justa. Ele chegou a citar como exemplo a ampliação em um ano do tempo de trabalho para servidores. Mas não tocou mais no assunto.

Idade mínima ainda não é um consenso

Um dos pontos de destaque da proposta de Reforma da Previdência "estacionada" no Congresso é a idade mínima para que homens e mulheres possam requerer aposentadoria no INSS. Na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, a idade de trabalhadoras sobe de 60 anos para 62 anos, e dos trabalhadores permanece em 65 anos.
Mas, segundo afirmações do presidente eleito Jair Bolsonaro, ao invés de subir a idade mínima, ela seria diminuída. "Um homem que trabalha na construção civil, por exemplo, aos 65 anos já não tem mais condição plena de trabalhar", disse Bolsonaro.
Por conta disso, a idade de homens cairia dos atuais 65 anos de idade para 61. E mulheres poderiam pedir aposentadoria aos 56 anos e não mais aos 60 anos.
Uma outra proposta de mudança no sistema previdenciário apresentada pelos economistas Armínio Fraga e Paulo Tafner estipula que essa idade mínima seja de 65 anos, tanto para homens quanto para mulheres. Mesmo com tantos percalços pelo caminho, o futuro ministro da Economia e "guru" econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, defendeu a votação, ainda neste ano pelo Congresso Nacional, de uma "parcela do texto atual" da Reforma da Previdência já aprovada em Comissão Especial da Câmara dos Deputados.
Paulo Guedes propôs também que a discussão de sua proposta sobre um novo sistema previdenciário, ancorado no modelo de capitalização, comece já no próximo ano.
"Seria um saldo positivo para o governo que sai e para o que entra", afirmou Paulo Guedes.
(* Colaborou a estagiária Edda Ribeiro)

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