Sabrina de Jesus Cabral, de seis anos, que morreu após ser espancada pelos tios, foi torturada antes de falecer, em Planaltina de Goiás (ou Brasilinha), nessa quarta-feira (29/05/2019). Após apanhar, a menina teria sido deixada ao relento. O irmão, de 8 anos, relatou que ela foi castigada com um vergalhão de ferro e um pedaço de madeira. O delegado do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) de Planaltina de Goiás, Antônio Humberto Costa, confirmou o caso. As informações são do Metrópoles.
As crueldades cometidas contra Sabrina chocaram o próprio delegado. “A explicação é tão absurda quanto o ato em si. Eles saíram pela manhã e deixaram as crianças sozinhas, trancadas em casa, e, quando souberam que elas pediram comida aos vizinhos, ficaram com raiva, castigaram e agrediram os meninos”, revelou.
Além de Sabrina, os tios – Bruno Deocleciano da Silva, 19 anos, e uma menor de 17 – maltratavam e agrediam outras três crianças: um menino de 8 anos, uma menina de 4, e outra de 1. Elas apresentavam sinais de violência que, segundo o delegado do caso, indicam prática de tortura.
“Através da coloração das lesões, é possível ter uma ideia de quando elas foram praticadas. Isso é uma característica de tortura”, apontou Antônio Humberto. “Nós, que estamos acostumados a trabalhar com violência, achamos esse caso particularmente chocante. Uma violência absurda. Um fato animalesco. Uma selvageria sem precedentes”, completou.
Um vizinho, que chegou ao local na tentativa de socorrer Sabrina, expôs que a menina tinha espuma branca na boca e reclamava de dores no peito.
Sem arrependimentos
O delegado garantiu que os agressores não demonstraram arrependimento no momento do depoimento. Segundo a tia, Sabrina tentou se esconder debaixo da mesa e, mesmo assim, foi agredida com chutes na cabeça.
O delegado garantiu que os agressores não demonstraram arrependimento no momento do depoimento. Segundo a tia, Sabrina tentou se esconder debaixo da mesa e, mesmo assim, foi agredida com chutes na cabeça.
Outra menina, de 4 anos, está internada no hospital e apresenta lesões antigas, como marcas de ferro de passar roupa. Os conselheiros tutelares contaram que as crianças comeram de forma desesperada ao chegar ao centro de saúde.
Agressões constantes
De acordo com vizinhos e policiais ouvidos pela reportagem do Metrópoles, os atos de violência contra as crianças eram recorrentes. O pedreiro Antônio Jares, 33 anos, contou que o último episódio presenciado por ele ocorreu na noite de terça-feira (27/05/2019).
De acordo com vizinhos e policiais ouvidos pela reportagem do Metrópoles, os atos de violência contra as crianças eram recorrentes. O pedreiro Antônio Jares, 33 anos, contou que o último episódio presenciado por ele ocorreu na noite de terça-feira (27/05/2019).
“Por volta de meia-noite, eu abro a janela e vejo a tia arrastando a menina pelos cabelos aqui na rua. Era um relacionamento conturbado. Escutávamos brigas todos os dias.”
Ainda segundo o vizinho, o casal circulava com as crianças no bairro, a cerca de cinco meses.
“Nós já havíamos denunciado outras vezes. A polícia vinha, eles não abriam a porta, e as autoridades iam embora. Ouvíamos os meninos chorando. Eles passavam o dia fora e deixavam as crianças chorando em casa, sem comida. Era um casal intimidador. Tínhamos medo de virar alvo e ficávamos neutros. Nessa quarta, a minha esposa resolveu chamar o conselho [Conselho Tutelar], e foi quando recebemos a informação da morte de uma das crianças”, comentou.
A diarista Maria Josué, 56, é vizinha do casal e mora na casa onde as crianças pediram comida na manhã dessa quarta-feira (29/05/2019). “Nós sempre dávamos. Às vezes, ouvia as crianças gritando e perguntava o que estava acontecendo, mas eles diziam que não era nada. Nesse dia, ele se arretou, ficou com raiva e fez o que fez”, observou.
Ela comentou ainda que tinha um bom convívio com Bruno. “Ele vinha aqui e conversávamos. As crianças deles também brincavam com as minhas. Nunca havíamos visto marcas. Eles andavam sempre limpos, calçados e vestidos. Estou chocada”, apontou Maria.
Pais presos
Os pais das quatro crianças, Silvoney de Jesus dos Santos e Daniela de Jesus Cabral, foram presos na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho). Depois disso, a tia foi buscar as crianças.
A reportagem esteve no Hospital Santa Rita de Cássia, onde as três vítimas continuam internadas. A assistência social confirmou que parentes e amigos dos pais das crianças estiveram na unidade de saúde para visitá-las. Durante a entrevista com o serviço social, elas foram dóceis e não quiseram se separar.
Nesta tarde, duas crianças serão encaminhadas ao orfanato. A assistência social do hospital está recebendo doações de roupas, comida e brinquedos. Eles também informaram que muitas pessoas apareceram no local com o intuito de adotar os três irmãos.
Por NATHÁLIA CARDIM
Fonte: Ronda 180
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